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Let's talk with // Vânia, Lolly Taste


Fala-nos um pouco da Vânia.

[V]: Ora bem, tenho 32 anos, sou web designer - apesar de muita gente achar que sou psicóloga ou algo do género – tenho 2 gatos incríveis que adoptei em Dezembro. Um deles tem Fiv e sou voluntária numa associação Animal há 4 anos, a UPPA. Sou muito tagarela, falo imenso e canto muito. Desde miúda que acordo a cantar e tenho mania de fazer música com qualquer frase que oiça, o que é palerma porque às vezes estou a cantarolar coisas como “colocar a loiça na máquina la la la”. Para além disso tenho uma dança estranha a que chamo dança da vitória que executo sempre que chego a um país novo. E danço ali mesmo no meio do aeroporto, com o namorado a ir rapidamente ao WC para fingir que não me conhece. Adoro cinema e séries e no meu coração tanto cabem filmes série B como “Mega Shark vs Crocossaurus” como Game of Thrones ou Stranger Things.

Sou tudo menos coerente seja no que vejo em tv, no que leio e na minha vida em geral e acho que é por isso que nunca me sinto aborrecida. Apaixono-me perdidamente por muita coisa e acima de tudo sou uma pessoa muito curiosa, adoro experimentar, testar e saber mais. Depois se vejo que não gosto assim tanto parto para outra. Acho que acima de tudo sou uma pessoa muito prática e meio louca talvez hehehe.

Quando é que começa o teu dia? [V]: Cedo, bem cedo. Sou super matinal e depois às 22h estou a cair de sono. Normalmente acordo às 06h se for ao Crossfit ou às 06h30 se for treinar à praia porque moro perto. Adoro espreguiçar-me e alongar mal saio da cama, é a primeira coisa que faço todo o santo dia. Depois bebo a minha água com limão, como algumas amêndoas e estou pronta para treinar. Eu treino muito em cima da hora a que acordo por isso as amêndoas são excelentes para me darem energia sem me deixarem cheia. Depois vem a parte favorita - o pequeno-almoço - que tomo com uma satisfação incrível. Tenho tanto prazer em fazê-lo como em comê-lo e como consigo ver o mar da minha varanda gosto sempre de comer lá fora, até para me dar uma energia extra para ir trabalhar.

Quando se entra no teu blog sente-se magia. Existe muita proximidade com as pessoas, falas sempre na primeira pessoa e de assuntos muito pessoais e delicados. Sentes que o blog acabou por ser uma forma de expressar tudo aquilo que sentes e que sentiste durante os anos mais difíceis? [V]: Obrigada pelo elogio! O Lolly Taste tem 7 anos e ao longo deste tempo já foi sobre tudo e um par de botas. Eu criei essencialmente o blogue para curtir. Queria escrever, queria conhecer novos blogues e nunca tive nenhuma ambição com ele. Talvez por isso tenha sido durante muito tempo uma mixórdia de temáticas onde eu não tinha uma voz definida. Entretanto entre 2015 e 2016 deixei de escrever, estive 1 ano sem o fazer e um dia sem razão aparente voltei a fazê-lo e comecei a partilhar mais sobre alimentação saudável.

Entretanto, nesses primeiros meses, fiquei doente com uma dieta muito restrita que fiz e depois de ter ido para o hospital decidi desabafar no blogue. Abri o coração sobre ter falhado, sobre sentir-me mal, falei sobre a ansiedade e os ataques de pânico que também sofri e recebi um feedback tão incrível que acabei por encontrar sem procurar não só a minha voz neste mundo virtual como um grupo de apoio. Hoje em dia acabo por ter muitas pessoas a desabafarem comigo, por sentirem que as compreendo.

O blogue acabou por crescer bastante neste último ano mas eu continuo com o mesmo espírito de simplesmente querer curtir. O facto de eu falar na primeira pessoa é porque gosto que quem me lê sinta proximidade. É óbvio que eu não sou amiga de todos os meus leitores, mas gosto que as pessoas se sintam, acima de tudo, confortáveis e que percebam que não são anormais por passarem por determinado disturbio. Eu sou muito terra a terra na minha vida e gosto de manter isso no blogue. Não é segredo para ninguém que passaste momentos muito complicados. Durante 8 anos sofreste de bulimia pela grande obsessão que tinhas com o teu corpo e por viver num mundo ao qual não pertencias. Como conseguiste dar a volta a momentos tão difíceis e passares a ser pessoa que és hoje? [V]: Eu costumo dizer que vivi 15 anos da minha vida a odiar-me. Comecei a sofrer de Bulimia aos 16 anos porque tinha excesso de peso – pesei 80 kilos - e consegui libertar-me aos 24 mas depois disso a única coisa que mudou foi deixar de vomitar porque de resto tudo se manteve. Sempre me vi gorda, feia e imperfeita. Sempre desejei alcançar um corpo de sonho, fiz mil dietas, fui a mil nutricionistas e basicamente passei muitos anos a simplesmente mutilar-me psicologicamente entre muita restrição e muita compulsão. Como disse acima, o ano passado em Janeiro depois de mais uma resolução de ano novo em que prometi que ia ficar super fit, comecei a fazer uma dieta passada por uma pessoa que não era nutricionista e efectivamente alcancei o tal corpo de sonho. Tive uma massa gorda muito baixa, estava super seca e definida e era a pessoa mais infeliz do mundo. A comida sabia sempre ao mesmo porque eu comia sempre o mesmo, não conseguia comer sem contar calorias ou pesar a comida e acima de tudo continuava a ver-me “feia-gorda-horrível”. Colocava fotos no Instagram com poses mega fixes, recebia likes e comentários a darem-me os parabéns e assim que desligava o telefone chorava de tristeza. Entretanto comecei a sofrer de compulsões graves e fui parar ao Hospital. E foi depois de uma médica me ter dito que se queria morrer aquele era o caminho que dei um basta. Chorei muito, senti-me inutil por estar à beira dos 31 anos e continuar ali naquele jogo de perseguir utopias e de odiar a coisa mais preciosa que tenho, o meu corpo. Dei um basta, pedi ajuda nutricional e psicologica e aos poucos comecei a traçar o meu caminho de cura interior porque mais do que aprender a comer eu precisava de tratar a ligação emocional que eu tinha com a comida.

Conselhos para aquelas mulheres que têm medo de arriscar por não acreditarem nelas. Conselhos para aquelas mulheres que têm sonhos de vida mas que os deixam guardados na gaveta por medo. [V]: Acho que o melhor conselho que posso dar é mesmo – VIVE - porque só cá estás uma vez e não sabes como vais chegar a velho. As pessoas podem achar que é cliché mas esta é a maior das verdades e eu inspiro-me muito na minha avó que foi uma pessoa que trabalhou a vida toda de sol a sol, raramente tirava férias, e acabou por cegar com glaucoma e sofrer de Alzheimer e Parkinson aos 65 anos. Acabou por ter um fim de vida triste e nunca andou de avião como tanto sonhava. E isto ensinou-me muito, porque efectivamente nós deixamos para amanhã, guardamos as coisas por medo ou por falta de tempo e não sabemos se no futuro as conseguiremos fazer. Somos a geração da tecnologia, dos trabalhos sedentários, somos efectivamente a primeira geração em que é impossível saber quais os problemas que vão advir do estilo de vida que temos e continuamos a viver como se a vida fosse durar para sempre. A minha avó ensinou-me que se temos um sonho devemos efectivamente fazer de tudo para o conseguir, se não der ao menos tentámos e essa satisfação de não termos ficado parados já ninguém nos tira. O que é que o teu blogue trouxe de melhor? [V]: As pessoas. Há muitos anos que digo que o melhor dos blogues são as pessoas e é verdade. Tenho amigas desde o início do blogue e tenho conhecido tanta gente boa e com vontade de fazer mais que sem dúvida nenhuma esta é a parte que mais amo. Depois claro que as oportunidades que vão surgindo são espectaculares, como a Bless Woman Conference onde vou ser uma das speakers, juntamente com outras mulheres incríveis, no dia 15 de Outubro, e outro projecto que vai acontecer mas que ainda não posso revelar. O teu Instagram é fantástico. Quando se entra no teu feed, apetece comer tudo (ahaha). Qual consideras que seja a chave para ter sucesso e para criar uma comunidade fiel? [V]: Ahahahahah tenho muita gente a pedir-me pequenos-almoços com entrega . Falar de sucesso é sempre relativo porque há muitas formas de o medir mas realmente a melhor forma de criares uma comunidade fiel é seres sincera, honesta e acima de tudo não quereres ser mais papista que o papa. Ou seja, atalhares caminho e desatares a comprar seguidores e likes porque isso nota-se e na realidade é "chunga".

Eu tenho uma comunidade totalmente orgânica e aquilo de que mais me orgulho é a interação que o meu perfil tem mesmo não tendo milhares de seguidores, porque é verdadeiro, porque as pessoas se identificam e eu gosto sempre de responder a cada uma. Seria mais fácil para mim comprar imensos seguidores e likes, as marcas iam efectivamente achar mais atractivo, mas como disse acima eu estou nisto para curtir e sou muito selectiva no tipo de marcas que comunico por isso acredito que o que tiver de vir a mim virá pelo meu esforço e dedicação e não por ser "chica esperta".

Claro que os espertos normalmente chegam muito alto, mas eu tenho vertigens por isso prefiro estar confortável a partilhar conteúdo que me faz feliz e que é útil a quem me segue.

Partilha connosco quais os teus maiores medos durante esta tua jornada. E quais as maiores forças? [V]: O meu maior medo foi não saber se algum dia seria capaz de olhar para a comida de uma forma normal. Se algum dia iria conseguir viver sem estar em dieta e numa busca constante pela perfeição. Viver assim é esgotante e é, acima de tudo, muito limitativo, porque comer faz parte da nossa essência e temos de o fazer até morrer portanto, ninguém merece viver com medo de comida.

As maiores forças... eu tenho uma família linda que sempre me apoiou, tenho amigos muito importantes que estiveram sempre lá mas a maior força veio de dentro de mim e assim que a descobri que a tinha deu-se a minha cura. Assim que parei de lutar contra mim mesma, assim que decidi libertar-me desta obsessão, uma Vânia absolutamente incrível veio à tona e perceber que esta pessoa maravilhosa sempre esteve cá e eu a mutilei durante anos deu-me força para não querer voltar mais atrás. Achas que o mundo digital é o futuro? Achas que, num futuro próximo, vai ser possível cada vez mais pessoas viverem de um blog ou de uma marca? [V]: Bem, eu sou web designer portanto respiro digital e adoro redes sociais e blogues. Mas da mesma forma que adoro também me assusto porque estamos demasiado consumidos e estamos a deixar de saber fazer coisas tão simples como conversar num jantar sem olhar uma vez para o ecrã. O digital é incrível e acredito mesmo que é o futuro de muitas marcas e adoro ver projectos bonitos a crescerem vindos do digital. Por isso, sim, acho que as marcas têm um futuro promissor com o digital. Quanto aos blogues...este é um tema engraçado porque muita gente acha que e só criar um blogue, escrever meia dúzia de linhas e o sucesso chega. Eu estou em vários grupos de bloggers no facebook e das coisas que mais me faz confusão é ver pessoas que têm blogues há meia dúzia de meses e estão loucas à procura de parcerias, aceitando tudo e um par de botas. Isto faz com que entres nos blogues e eles comuniquem todos o mesmo. Costumo dizer que os blogues estão visualmente mais bonitos do que estavam há 7 anos mas a nível de conteúdo a blogosfera está muito saturada. Tens de criar uma comunidade, tens de tentar ser diferente num mundo onde existem milhares de blogues e isso muitas vezes acontece não só pelo conteúdo que partilhas mas também pela forma como escolhes comunicar. Ás vezes, só a forma de escrever já faz com que um blogue tenha uma comunidade incrível e outro com o mesmo tema não. É muito giro pensar em viver de um blogue, mas ter um blogue dá muito trabalho mesmo, principalmente se tens um trabalho a full time. Tens de despender do teu tempo livre para criar conteúdo de qualidade e por isso é que muitos blogues que são criados não se aguentam muito tempo. Onde te imaginas daqui a 5 anos? [V]: A trabalhar por conta própria, sem dúvida. Adorava conseguir conciliar o design com a escrita, De qualquer forma, tenho um sonho muito antigo de ter uma quinta pequena, com dois ou três quartos e uma série de actividades ligadas à mente e ao corpo e alimentação orgânica onde as pessoas não teriam internet nem tv. Fazer um verdadeiro detox do mundo. Inclusive estive na passagem de ano numa quinta que era o sítio perfeito. Acho que já falo disto há uns 8 anos, mesmo antes de estar mais desperta para este tipo de assuntos, portanto parece que as coisas já se estavam a traçar há alguns anos para eu encontrar o meu próprio equilíbrio.

Obrigada fantástica Vânia, por partilhares connosco a tua história de sucesso mas, essencialmente, por mostrares que falhar também é um caminho. Que errar e cair é importante, para chegarmos mais longe e encontrarmos o nosso caminho.

With love, JL

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